Para entender melhor essa história, é importante retornar a meados de 1987. O Brasil estava sob o governo Sarney; o Plano Bresser congelava os preços dos alimentos e a Embratel monopolizava as redes de telecomunicações no país. Nesse período, pesquisadores brasileiros que viajavam para a América do Norte e Europa voltavam ao Brasil após terem contato com novas formas de comunicação por meio de correio eletrônico e de fóruns de discussão em redes de computadores. Para não deixá-los sem acesso a esse novo mundo, organizações como a Fapesp, em São Paulo, e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro, buscavam meios de, literalmente, conectarem bits e bytes ao exterior.
Em São Paulo, a solução foi centralizar o fluxo de dados a partir da conexão entre um computador da Fapesp e o laboratório de física de partículas em Chicago nos Estados Unidos, o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab). O centro de pesquisa norte-americano estava conectado a uma rede de computadores internacional, a BitNet (Because It's Time to NETwork / Porque é hora da rede) . “A gente contratou uma linha internacional da Embratel entre nós e o Fermilab e as outras universidades se conectaram a nós”. Getschko explica que a linha contratada era de apenas 4.800 bits por segundo. Ou seja, 8 kbps, menos de 1% de uma conexão atual de 10 mbps.
Essa solução fez com que universidades brasileiras de São Paulo, do Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro se conectassem entre si pela Bitnet. O problema é que as redes LNCC e Fapesp não se comunicavam diretamente. Assim, um dado da Universidade Federal de Santa Maria, que estava conectada ao LNCC, por exemplo, precisava percorrer, ao menos, dezenas de milhares de quilômetros de cabos de telefonia nos Estados Unidos antes de chegar até a USP, ligada a rede da Fapesp, que fica a menos de 1,5 mil quilômetros de distância.
Esse gargalo foi resolvido em 1989 quando LNCC e Fapesp foram conectadas entre si. Nesse ano também surgiu a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), o que ampliou a rede acadêmica de conexões brasileiras com a rede mundial de computadores. Era o auge da Bitnet no Brasil.
Mas esse modelo de rede durou pouco. Em 1990, o laboratório Fermilab, que abriu as portas do mundo para a Fapesp, disse que migraria da Bitnet rumo à internet (TCP/IP) por ter uma maior capacidade operacional. Novamente, a fundação pegou carona nas mudanças tecnológicas e, em dezembro de 1991, sob os olhos atentos Getschko, já haviam pacotes de dados chegando e saindo do Brasil no idioma atual da internet.
Domínios .br
Em 1989, a Fapesp recebeu os direitos, mesmo de forma informal, de explorar o uso do domínio .br. Assim, como lembra Getschko, as máquinas brasileiras passaram a ter nome e sobrenome. Se hoje é comum pagar um domínio .com.br ou .net.br, até 1998 esse registro era gratuito desde que se respeitasse uma série de regras hierárquicas. O .gov.br, por exemplo era somente para governos. O .br, como já era usado desde o início pelas universidades brasileiras, ficou como estava (usp.br, unesp.br, ufrj.br, fapesp.br, etc.).
Em 1995, criou-se o Comitê Gestor da Internet (CGI.br) para dar diretrizes e políticas da internet no país, passando a controlar formalmente a gestão dos domínios .br. Também foi nesse ano que os provedores passaram a permitir conexões discadas (dial-up) de TCP/IP aos usuários. Meses antes, em dezembro de 1994, a Embratel já havia experimentado o Serviço de Internet Comercial com 5 mil usuários inscritos. Contudo, Demi lembra que ele e outros pioneiros perceberam que o modelo adotado limitaria a escalabilidade da internet no Brasil.
“No começo de 1995, o Ministério das Comunicações soltou uma portaria dizendo que a Embratel não poderia fazer conexões TCP/IP diretamente aos usuários. Ele tinha que dar para as teles (Telecom). E as teles tinham que repassar aos provedores e os provedores, aos usuários... Em pouco tempo, tivemos um crescimento muito importante em redes porque foi montada uma estrutura que era um círculo virtuoso que era escalável."
Fonte e Créditos: Agência Brasil
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