(Foto: RCI FM 98 )
O rapper MV Bill acrescentou sua voz ao coro de críticas ao presidente Jair Bolsonaro por minimizar a gravidade da nova epidemia de coronavírus que atinge o Brasil em um clipe que pede que as pessoas se protejam.
Seu rap Quarentena, gravado em isolamento em sua casa e publicado nas redes sociais, alerta que o contágio pode ser explosivo nas abarrotadas favelas brasileiras, como a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, onde nasceu, algumas das quais não têm saneamento básico.
Ver que brasileiros e seu presidente não estavam levando o vírus mortal a sério o motivou a escrever a música, afirmou o rapper à Reuters, por e-mail, neste sábado.
“A Organização Mundial de Saúde avisou. Fizeram pouco caso. Chefe de Estado minimizou. Demorou. Perderam tempo com coisa que não interessa”, cantou.
O Covid-19 não é uma “gripezinha”, como caracterizou Bolsonaro, e mais brasileiros serão infectados devido à “ignorância” e à “arrogância” do presidente, disse o cantor.
"Cuide-se. Proteja-se ... vai faltar espaço na UTI”, alerta na música.
O rapper de 46 anos vive próximo à Cidade de Deus, complexo de favelas famoso pelo filme de 2002 que leva o mesmo nome e onde os primeiros casos de coronavírus nas favelas do Rio de Janeiro foram relatados, no último fim de semana. Gangues armadas e milícias nas favelas estão impondo rígidos toques de recolher para evitar a disseminação do vírus e impedindo que pessoas de fora entrem.
Os casos confirmados no Brasil somam 3.904, com 114 mortes até agora, segundo o Ministério da Saúde.
São Paulo e Rio de Janeiro, os dois Estados mais populosos e afetados do Brasil, fecharam negócios não-essenciais e aglomerações públicas para limitar a disseminação do vírus, com suas autoridades em conflito com Bolsonaro, que chamou a pandemia de “fantasia” que foi exagerada pela imprensa.
Como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente brasileiro advogou a favor de reabrir as atividades para mover a economia, minimizando a necessidade de distanciamento social propagada por especialistas de saúde.
MV Bill disse que os moradores das favelas brasileiras não seriam capazes de entrar em quarentena porque precisam trabalhar e descer para buscar comida porque ninguém entrega na favela.
Disse que a economia tinha que continuar funcionado para quem tem salários precários. "Acho que um ponto importante é o Brasil não parar. As coisas precisam continuar funcionando, a gente precisa também pensar na economia, mas a gente não pode condenar as pessoas à morte", disse.
"Uma das coisas que mais me preocupa nesta pandemia é a falta de informação das pessoas, que ainda não estão acreditando muito na letalidade desse vírus," afirmou, por email. "Mesmo tendo exemplos como na Itália, ainda tem pessoas que estão ignorando."